real digital

O Banco Central ainda não divulgou detalhes do projeto ‘real digital’, mas especialistas avaliam a possível chegada da alternativa ao Brasil.

A digitalização das movimentações financeiras, acelerada pela pandemia de Covid-19, já traz consequências para a economia brasileira. Após o PIX, o Banco Central do Brasil (BCB) pretende investir em uma modalidade digital da moeda nacional, o ‘real digital’.

Apesar de o atual ministro da Economia, Paulo Guedes, ter calculado o dinheiro virtual para 2022, a alternativa ainda permanece em estudo. Não há muitas informações sobre o funcionamento da moeda digital. Por enquanto, a virtualização ainda está em etapa inicial — mas a sua possível chegada pode afetar a relação do brasileiro com o dinheiro.

Para o Co-CEO da Foxbit, Ricardo Dantas, o movimento de digitalização é natural, principalmente após o aumento de brasileiros com conta em banco. Se antes uma parcela do país permanecia fora das instituições bancárias, com o pagamento dos auxílios passando por órgãos como a Caixa Econômica, o número de ‘bancarizados’ aumentou.

Caso o ‘real digital’ prossiga, o Brasil entra no rol dos países a digitalizar oficialmente a moeda soberana. A primeira experiência do tipo em uma grande potência aconteceu na China, no começo de abril: os chineses já podem movimentar o yuan digital, versão virtual do dinheiro chinês.

Por aqui, o processo deve demorar um pouco a chegar integralmente, apesar de apontar para uma adesão positiva ao serviço, avalia o CEO da Plano Educação Financeira, Ricardo Hiraki.

“A gente não vai ter 100% do real digital pelo menos na próxima década”,  projeta. “A mudança de hábito vai levar um tempo, inclusive, respeitando os dados da geração mais antiga. Mas dá para falar que mais da metade [da população] vai aderir”, conclui.

Dinheiro digital: como funciona o modelo chinês

Na versão chinesa da moeda digital, estudada pela equipe do Banco Central Brasileiro, toda operação ocorre em uma aplicação criada pelo Banco Central de Pequim, que gerencia as movimentações. A identificação de quem movimenta o dinheiro, inclusive, é o que diferencia a versão digital de moedas oficiais das chamadas criptomoedas, como o Bitcoin. O anonimato não seria uma opção.

Isso porque, o modelo estudado pelo órgão brasileiro é uma Moeda Digital ligada ao Banco Central — ou, no inglês, Central Bank Digital Currencies (CBDC). Além da China e do Brasil, pelo menos outros 60 países, de acordo com o CBDC Tracker, já possuem projeto similar em andamento: Canadá, Estados Unidos, Bahamas, Japão e Estônia estudam modalidades virtuais dos dinheiros nacionais.

E qual a diferença na prática entre o real digital e as criptomoedas?

O Banco Central do Brasil faz a diferenciação entre as duas versões. “A natureza dos Crypto Assets é de ativos. Portanto, eles não têm características fundamentais para serem considerados moeda – meio de troca, reserva de valor e unidade de conta – e não são emitidas por autoridades monetárias (Bancos Centrais)”, explicou o órgão, em nota enviada ao iDinheiro.

A entidade, inclusive, deve ter grande importância no gerenciamento do real virtual. “O Banco Central faz esse controle de emissões e transfere para bancos, que replica para pessoas físicas”, explica Ricardo Hiraki. Similar ao modelo chinês, o brasileiro também pode contar com um rastreio das movimentações financeiras, “pelo menos até certo ponto”, ressalta o CEO da Plano.

A possibilidade de identificar as movimentações, entretanto, não devem ser motivo de preocupação, avalia Ricardo Dantas. “O Governo já tem a informação do cartão de crédito, no Imposto de Renda. Quando você leva isso para uma moeda digital você faz com que esse processo seja mais automatizado”, projeta.

O que mais pode ser influenciado pelo ‘real digital’

Mesmo que a virtualização da moeda brasileira ainda esteja em discussão, os especialistas já imaginam algumas consequências da adoção. O iDinheiro listou algumas possíveis reações à moeda digital citadas pelos especialistas:

Dinheiro em papel moeda será menos comum

Com a chegada do ‘real digital’, o dinheiro físico tende a perder a sua usabilidade. O fenômeno, contudo, já é antigo, e apenas será intensificado com a adoção da moeda virtual.

Menos fraudes e sonegações com o ‘real digital’

Caso o modelo adotado no Brasil seja o rastreável, isso abre espaço para um maior controle do Governo sobre a localização do dinheiro. Em resumo: seria mais difícil acumular dinheiro sem passar por tributações.

Criptomoedas desvalorizadas

Outra consequência da adesão ao ‘real digital’ é o valor das criptomoedas, como o Bitcoin — principalmente no cenário internacional. A adoção da prática pelo Brasil fortalece a moeda digital no mercado mundial. Com isso, moedas criptografadas tendem a perder espaço como alternativa de investimento.

A cena deve ficar mais desfavorável para essa modalidade monetária caso Estados Unidos e União Europeia resolvam investir no dinheiro virtual: juntas, as regiões somam quase 40% do PIB mundial.

 

Fonte: idinheiro